Anos atrás a palavra “bipolar” ficou muito popular pelas razões erradas. Estas razões erradas fizeram com que até hoje o termo seja usado como sinônimo para mudanças no humor (que são normais, mesmo que aconteçam de forma repentina). “Bipolaridade” passou a se referir muito menos ao Transtorno Bipolar, cujo diagnóstico é baseado em oscilações graves que vão de fases depressivas a fases maníacas. O pior disso tudo, é que o mesmo vem acontecendo há anos, da forma mais irresponsável possível, com diversos outros termos relacionados à saúde mental. Um excelente exemplo disso é o termo “hiperfoco”.
Este ano a Netflix passou a transmitir WWE ao vivo, e eu, que já curtia, mas nunca tinha acompanhado, passei a acompanhar. Pra quem não tá ligado, WWE é a sigla para World Wrestling Entertainment, a maior companhia de Pro Wrestling (luta livre) do mundo. Em seus programas, histórias são encenadas, e todos os conflitos dos personagens são resolvidos no ringue em lutas baseadas em coreografia e performance (o que não quer dizer que as pessoas não possam bater e se machucar de verdade nesse processo). Mas o que tudo isso tem a ver com qualquer coisa que eu já falei nesse texto?
Bom, desde janeiro eu passei a ver programas antigos da WWE para me atualizar e entender os personagens, histórias, títulos e tipos de luta. Também pesquisei no Google, Tiktok, Instagram, Youtube e até no Pinterest, em busca de entender mais sobre WWE e Pro Wrestling num geral. E eis que minha internet virou isso. O buscador e todas as redes passaram a me recomendar conteúdos relacionados, e quanto mais eu clicava, mais recomendações vinham… até que eu percebi que eu só falava (falo) em Wrestling, e mesmo quando o assunto é outro, eu enfio WWE no meio. Seria hiperfoco, ou minha cabecinha foi manipulada pelos algoritmos que não param de jogar o mesmo assunto na minha cara?
Não é difícil que você, nas suas andanças pela internet, tenha topado com a palavra “hiperfoco” sendo usada nos mais diversos contextos, tipo "fiquei com hiperfoco e li todos os livros desse autor”. Eu mesma já me peguei afirmando ou questionando se não estava hiperfocando em algo, como em um texto que escrevi tempos atrás aqui mesmo na newsletter. Tá, mas o que diabos é hiperfoco?
Segundo a psicóloga Natalia Orti “Hiperfoco é o termo usado para descrever o estado de concentração intensa e sustentada de uma pessoa por uma tarefa ou um conjunto de estímulos específicos, como um estado de absorção completo. Durante o estado de hiperfoco, há uma percepção diminuída de estímulos que não são relevantes para a tarefa.” (fonte)
Ou seja, só é hiperfoco caso sua percepção, ou concentração, ou foco em qualquer outra coisa que não seja aquele assunto que é especial pra você seja significativamente prejudicado. É por isso que este é um critério importante para o diagnóstico de neurodivergências como TEA e TDAH. E aí caímos não só no perigo do autodiagnostico, como na banalização de um termo relacionado a transtornos de saúde mental, como se fosse algo comum a todas as pessoas.
Não tenho propriedade para diagnosticar ou questionar o diagnóstico de ninguém, então eu falo com pessoas que, como eu, não tem certeza nenhuma sobre a possibilidade de ter ou não hiperfoco em algo. Se você está nesse limbo de dúvidas, faz um teste: substitui o que eu falei sobre WWE por algum assunto que tem sido sua obsessão nos últimos tempos.
Caso você conclua que está sendo manipulado pelos algoritmos, não se culpe. Isso é fruto de trabalho meticulosamente planejado para te viciar. A intensão aqui é mais te poupar de patologizar seus comportamentos e te alertar a variar um pouquinho seu consumo de internet, pelo seu próprio bem. É sempre bom lembrar que:

Então é isso, obrigada por ler até aqui, deixo o apelo pra quem quiser/puder, clicar no linktree que eu deixo no fim do post e ver todas as formas de acompanhar e apoiar meu trabalho. Deixo também um vídeo do PH Santos que complementa bastante essa discussão.
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